Por Fabio Battaglia, CEO da Randstad no Brasil

 

Revoluções silenciosas acontecem com mais frequência do que pensamos. Impossível imaginar a vida contemporânea sem internet ou celular. Quando surgiram, essas tecnologias precisaram de tempo para serem assimiladas pelo grande público. Já o trabalho híbrido, com jornadas que revezam entre o escritório e a casa das pessoas, com a tecnologia no centro da rotina profissional de milhões de pessoas, está totalmente incorporado no mundo todo. Neste 1º de maio convido você a olhar e refletir sobre a revolução silenciosa que está acontecendo no mercado de trabalho, bem diante dos nossos olhos: a transferência de protagonismo das empresas para os talentos, impulsionada pela escassez de profissionais qualificados, e como essa nova dinâmica deve impactar nas estratégias das corporações.

O modelo predominante na relação de trabalho de anos atrás seguia a lógica da “empresa dos sonhos” onde os profissionais eram atraídos por um bom salário e um plano de carreira que incentivava a permanência em um mesmo emprego ao longo de décadas. É fácil encontrar pessoas da geração 50+ com não mais do que dois registros na carteira de trabalho, uma lógica incentivada por aspectos econômicos e sociais que ensinaram o brasileiro a conviver com a instabilidade da economia e o fantasma do desemprego, incentivando mais ainda um comportamento conservador que acabava por supervalorizar o emprego, independente da satisfação pessoal em relação à atividade que o trabalhador exercia. A empresa tinha a prerrogativa de ser uma provedora em um ambiente de escassez de oportunidades, mas essa visão está mudando ainda que o desemprego continue a assombrar o brasileiro. Salário e estabilidade são importantes, mas não são mais suficientes para atrair e reter profissionais, em especial das gerações mais novas.

De acordo com a edição mais recente do estudo global Randstad Workmonitor, que há quase duas décadas ouve e dá voz a milhares de trabalhadores ao redor do mundo, contando o que eles esperam de seus empregadores, um grande senso de propósito guia as escolhas de carreira da força trabalhadora mundial. No material, publicado em abril deste ano, 68% dos entrevistados entre 18 e 34 anos, os chamados Millennials e a geração Z, afirmam que felicidade no trabalho é um fator fundamental em suas decisões profissionais. Ainda de acordo com o estudo, 47% dos trabalhadores da América Latina deixaram seus empregos por não se encaixarem com seus estilos de vida, índice bem maior do que a média global.

Enquanto Baby Boomers e a geração X sonhavam em fazer carreira em uma empresa e ter a casa própria, os profissionais nascidos a partir de 1981 são guiados por um senso de propósito e a busca constante por empregos que lhes proporcionem as melhores experiências ao invés de estabilidade.

Com uma força trabalhadora mais esclarecida e exigente, as empresas são acometidas por outro desafio: uma onda mundial de escassez de profissionais qualificados que aumenta a competitividade pelos melhores talentos. Esse fenômeno foi intensificado pela pandemia, que acelerou o processo de transformação digital e gerou novas demandas de mercado. Como resultado, vê-se uma mudança no balanço de poder das  empresas para os profissionais, em especial em alguns setores onde o gargalo já pode ser considerado crítico, como o de tecnologia que, de acordo com dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), terá um déficit de 530 mil profissionais entre 2021 e 2025.

O caminho para as empresas resolverem parte dos problemas estruturais do mercado de trabalho é ouvir os anseios da força trabalhadora para tornarem suas marcas empregadoras mais atraentes, considerando que a flexibilidade aparece como aspecto importante para profissionais do mundo todo. De acordo com o estudo Workmonitor, 71% dos trabalhadores em nível global e 85% no Brasil, anseiam por arranjos mais flexíveis, dividindo suas jornadas entre trabalho presencial e remoto.  A pesquisa descobriu ainda que o horário do expediente também vem sendo questionado: 90% dos trabalhadores brasileiros consideram importante ter horas de trabalho mais flexíveis, ficando acima da média global, que foi de 83%. Ficou evidente que empresas que investirem em modelos de trabalho mais inovadores, como rever o tradicional expediente das 9 às 18 horas, podem sair na frente na competição por profissionais e driblar a escassez.

Outra solução está em atrelar propósito ao desenvolvimento. A tecnologia permite que pessoas trabalhem de qualquer lugar do mundo e faz com que empresas disputem profissionais qualificados num mesmo mercado e também com corporações de outros países, já que a escassez de talentos tornou-se um desafio global. Enquanto isso, a pesquisa Workmonitor apontou que 92% dos trabalhadores brasileiros encaram a oportunidade de capacitação e desenvolvimento como um fator fundamental na hora de tomar a decisão de ficar ou mudar de emprego. Logo, criar programas e espaços que permitam a qualificação de seus quadros, não só torna as empresas mais atraentes, como forma os profissionais para atender as demandas do mercado. Estamos diante de uma das maiores transformações no mundo do trabalho. A máxima de que o mercado sempre tem espaço para bons profissionais nunca foi tão verdadeira.

 

Sobre a Randstad

Fundada em 1960, na Holanda, a Randstad é líder global em solução e consultoria em recursos humanos, com foco em recrutamento e seleção. A companhia combina o poder da tecnologia de última geração com o toque humano para oferecer as melhores soluções para empresas e candidatos. Presente em mais de 38 países e empregando mais de 670 mil pessoas por dia, chegou no Brasil em 2011 e, hoje, tem presença nacional, atendendo todas as regiões do país.

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