Mudanças frequentes no mercado de trabalho levam a aprendizagem contínua; empresas criam ferramentas
Matheus Prado
ESPECIAL PARA O ESTADO
Giovane Glayston começou o ano de 2017 como auxiliar administrativo numa empresa, com dificuldades para sustentar sua família. No final do mesmo ano, já era analista de suporte numa startup, com possibilidades de crescimento. O novo ofício, aprendido por meio de cursos gratuitos online, deu uma nova perspectiva para o jovem de 25 anos.
Educação continuada, ou life long learning, é uma corrente que vem crescendo em modelos de ensino e entre especialistas de educação. O argumento é que, com as modernizações da indústria e do mercado, a força de trabalho precisa se reciclar durante toda a vida para se manter relevante.
Na prática, não estamos falando de cursos de média e longa durações, como graduações e MBAs, e sim de pequenos módulos, muitas vezes disponíveis online e gratuitos. Devido à natureza digital da coisa, grande parte dos cursos estão voltados para as áreas de tecnologia, marketing e comunicação.
Reciclagem. Giovane Glayston saiu de uma empresa como auxiliar e passou a analista em uma startup após cursos. Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
Roberto Mosquera, especialista em organizações ágeis na Ekantika, explica o processo. “As pessoas faziam a mesma coisa todos os dias, e a educação acompanhava. Hoje, surgem novas ferramentas diariamente, que nos obrigam a continuar estudando.” O consultor também argumenta que, devido à praticidade e à fluidez dos novos conhecimentos, o processo é comportamental. Num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), diz, sai na frente quem busca sempre aprender novos conceitos e tem objetivos claros.
O movimento já vem sendo reconhecido por recrutadores. Ricardo Fazarano, gerente de carreiras da Randstad, prega proatividade e bom senso na hora de se reciclar. Ele explica que não adianta fazer dezenas de cursos online se você não conhece seus objetivos profissionais. “Muito mais do que assimilar um conhecimento profundo, esses cursos servem para demonstrar que o profissional é capaz de continuar aprendendo.” Giovane, um apaixonado por tecnologia desde a infância, se beneficiou disso.
A ferramenta utilizada por ele nos estudos foi a Trailhead, criada pela gigante de tecnologia Salesforce. Daniel Hoe, diretor de marketing da empresa, conta que a plataforma de ensino foi criada para reforçar a cultura corporativa da companhia, mas rapidamente ganhou tração externa. “As pessoas chegam ao site porque é de graça, mas é realmente voltado para pessoas que querem entrar nesse ecossistema de tecnologia.” O aprendizado é prático, com testes e projetos.
A área de comunicação também tem sido objeto de pequenas revoluções. Startup fundada em Belo Horizonte, a Rock Content oferece serviços de marketing digital e possui uma universidade corporativa. Cézar Machado, analista de marketing da empresa, conta que o primeiro curso oferecido veio com a necessidade de educar o mercado, porque a área de marketing de conteúdo não era tão polida aqui no Brasil. “A U Rock também nos apresenta uma oportunidade de gerar negócios: atrair empresas e trabalhadores”, explica.
Grandes empresas, como Banco do Brasil, Ambev e McDonalds, de olho no crescimento dos funcionários, também apostam em universidades corporativas. São ambientes de aprendizagem dentro das companhias, que vão dando novas ferramentas – e reciclando as antigas.
José Caetano Minchillo, diretor de gestão de pessoas do BB, explica que os cursos são para os desenvolvimentos profissional e pessoal. “Eles procuram conciliar as necessidades da organização e os anseios pessoais por desenvolvimento e sucesso na carreira dos funcionários.”
Teste ajuda profissional a tomar direções
Buscando abranger a análise comportamental de candidatos e funcionários – uma demanda crescente no mercado –, a recrutadora Reachr criou um software que faz tal avaliação. O D.O.M (diagnóstico, otimização e métricas) mapeia 15 características – liderança, empreendedorismo, comunicação – e gera um laudo com o perfil da pessoa.
São 82 afirmações, como “ter perspectivas e receber elogios”, “assumir cargos de destaque” e “poder responder de forma criativa aos estímulos que recebe” que o candidato vai selecionando ou não e o programa vai combinando os resultados.
Marcelo Braga, fundador da empresa, explica que inicialmente o programa foi feito pensando em empresas: recrutamento e desenvolvimento. Mas que hoje em dia, devido às constantes mudanças do mercado, “muita gente faz o teste buscando autoconhecimento”. Com o conhecimento, é possível direcionar melhor as escolhas sobre o que estudar para se aprimorar.
Beatriz Silva, diretora de RH do Cast Group, conta que a empresa utiliza o software para contratações.“Hoje a gente procura pessoas aliadas à cultura da empresa. Capacitar alguém tecnicamente é muito mais fácil.”
Reciclagem. Giovane Glayston saiu de uma empresa como auxiliar e passou a analista em uma startup após cursos.
Fonte: Estadão - Blogs - Radar do Emprego - 16/12/2018