Segundo consultorias, a demanda por estes executivos de finanças deve dobrar até o meio do ano desse ano
São Paulo – Quando entrou na área de finanças, há mais de 10 anos, na controladoria do Citibank, Eric Bedin almejava chegar ao cargo de diretor financeiro.
Com esse objetivo específico, o engenheiro traçou sua carreira buscando posições estratégicas, muitas vezes trabalhando junto ao diretor do setor, e adquirindo o conhecimento necessário para chegar lá.
Há um ano e meio, ele foi contratado como CFO, ou Chief Finance Officer, da Easynvest, para estruturar a área na fintech de investimentos. Seu novo desafio era apoiar o crescimento da jovem empresa para continuar atendendo bem seus clientes.
Segundo a Randstad, consultoria global de Recursos Humanos, a demanda por o cargo de CFO deve dobrar até o meio do ano em 2019.
O CFO, ou diretor financeiro, gerencia e planeja todas as operações de finanças e contabilidade na empresa. Durante períodos de crise, como nos últimos anos no Brasil, ele foi o responsável por segurar despesas e melhorar o desempenho do negócio.
Nos últimos três meses, eles já observaram um aumento significativo nas contratações. “Foi um crescimento de 30%. Se antes nós tínhamos dez posições abertas, agora temos 13”, comenta Letícia Krauskopf, gerente regional da Randstad Professionals.
Dada a alta posição, com grandes responsabilidades e um salário proporcional, que fica em torno de 25 a 45 mil reais, a gerente da Randstad considera o aumento muito expressivo e que mostra uma tendência para 2019.
Na Page Executive, unidade dedicada ao recrutamento para o alto escalão do PageGroup, também foi observado um crescimento de 23% de posições em 2018, que representa uma alta de 67% em relação ao ano anterior.
Para as consultorias, o diretor financeiro é um profissional com grande potencial para ser indicado como próximo CEO da empresa.
“Esse é o momento que as empresas olham para o CFO, que ficou junto delas durante a crise, e pensam em coloca-lo em nova posição”, explica Krauskopf.
No entanto, com o enxugamento de suas equipes, as empresas não se prepararam para criar sucessores internamente.
O cargo executivo pode ficar vago com a promoção dos profissionais. Em casos de empresas que extinguiram a posição, o otimismo com a economia brasileira vai fazer com que mais empresas reforcem contratações estratégicas para a expansão do negócio.
“A gente vê um movimento dividido entre a procura dentro da empresa e no mercado, ainda com o recrutamento maior de executivos de fora. Com os anos de crise, o preparo de um sucesso ficou para o plano B. A empresa pode ter um profissional bom tecnicamente, mas que não está pronto para assumir o cargo”, explica a gerente.
Fernando Andraus, diretor geral da Page Executive, aponta que a demanda pelos executivos também é reflexo de fusões e aquisições de empresas em 2018, gerando uma movimentação societária. Com a possibilidade do CFO se tornar o próximo CEO, ele é o primeiro cargo a ser modificado.
“O que também aconteceu na crise foi o acúmulo de funções desse diretor, que foi absorvendo responsabilidades do jurídico, TI e outros diretores. Ele se tornou um vice-presidente executivo”, conta Andraus.
Agora, as empresas correm para encontrar os melhores profissionais e estruturar suas áreas financeiras. Letícia Krauskopf destaca que o perfil mais buscado não leva em conta a formação inicial ou uma conquista isolada, mas o pacote de experiências que o profissional oferece.
“O que vale é o contexto da pessoa. O recrutador vai olhar se a pessoa tem MBA, pós-graduação, se já teve experiência no exterior e no universo financeiro. Geralmente, a pessoa teve a formação em contabilidade, administração ou economia, depois colecionou outros cursos, conquistas e experiências”, fala ela.
Um diferencial que será observado pelos recrutadores é o comportamento do candidato durante a crise econômica.
“Todas as empresas pedem por solidez diante da crise. Quem passou por muitas empresas no período não tem sido visto com bons olhos. O executivo precisa de maturidade para ocupar o cargo, mostrando que completou um ciclo para contar sua história do começo ao fim, com projetos de longo prazo e grande impacto”, diz a gerente.
Para o diretor da Page Executive, o CFO deixou de ser aquele a dizer “não” para tudo e começou a fazer parte das estratégias para viabilizar novas oportunidades e projetos.
“Nós tínhamos o diretor responsável pela relação externa com bancos e acionistas e outro para a custos e resultados internos. Hoje, é muito valorizado o profissional que conseguir transitar entre os dois lados. Cada vez mais, ele precisa ter conhecimentos de outras áreas, além de finanças, para enxergar a necessidade de implementação de projetos de transformação digital”, fala ele.
Para Bedin, da Easynvest, acima do conhecimento técnico que acumulou, ter passado 8 anos fora do Brasil foi essencial na sua carreira, para ter um visão mais ampla e trazer novas ideias ao mercado brasileiro.
“O embasamento técnico isolado não é suficiente. Saber desenvolver as pessoas da equipe para ajudar na sua missão é fundamental. O CFO precisa estar alinhado com o objetivo da empresa”, comenta.
CFO: ele deixou de ser aquele a dizer “não” para tudo.
Fonte: Exame - CARREIRA - VOCÊ S/A - 14/02/19