Atualmente, os trabalhadores enfrentam uma variedade de questões sociais, desde preocupações com recessão até tumultos geopolíticos. Isso sem contar o desafio de equilibrar responsabilidades pessoais e profissionais, além de lidar com o estresse relacionado ao trabalho, incluindo longas jornadas, inseguranças no emprego e ambientes de trabalho tóxicos. É fácil entender por que o estresse entre os trabalhadores está em níveis sem precedentes.

Então, como os trabalhadores estão lidando com esse estresse? E como isso está impactando o bem-estar geral no ambiente de trabalho? Embora o efeito dessas questões varie de colaborador para colaborador, é inegável que o bem-estar dos funcionários afeta diretamente os negócios, influenciando a produtividade, a retenção de talentos e os lucros.

Este artigo olha mais de perto a situação do bem-estar dos colaboradores ao redor do mundo e como o bem-estar da força de trabalho pode impactar negativamente ou positivamente seu negócio. Também exploramos o papel crucial dos gestores na criação de um ambiente de trabalho saudável, onde os colaboradores podem prosperar.

baixe nosso infográfico sobre a situação do bem-estar funcional para uma análise mais detalhada.

baixe nosso infográfico sobre a situação do bem-estar funcional para uma análise mais detalhada.

baixe nosso infográfico

O que é bem-estar no local de trabalho?

Estudos indicam que 80% dos executivos se comprometeram a priorizar o bem-estar dos colaboradores. No entanto, durante o mesmo período, 90% dos trabalhadores perceberam uma piora em sua qualidade de vida no trabalho. Isso sugere uma desconexão entre a intenção dos líderes em promover o bem-estar e a efetividade de suas ações.

Talvez os empregadores tenham uma compreensão limitada do conceito de bem-estar, subestimando sua importância no ambiente de trabalho. Frequentemente, o bem-estar é associado apenas à saúde física. Embora a saúde física seja fundamental, o bem-estar no trabalho abrange muito mais, incluindo fatores mentais, ocupacionais, sociais e econômicos.

O bem-estar é definido como o "estado de estar saudável, feliz e próspero". No contexto do trabalho, isso se traduz em uma variedade de incentivos e programas que as empresas implementam para promover a saúde e a satisfação dos colaboradores. Não se trata apenas de oferecer benefícios que tornem os colaboradores mais felizes, mas de criar uma estratégia abrangente que desenvolva um ambiente de trabalho seguro, onde os funcionários possam ser felizes, satisfeitos e engajados.

O estado do bem-estar funcional em todo o mundo

Na mais recente Avaliação de Vida Funcional Global da Gallup, apenas 35% da força de trabalho global declarou estar prosperando, enquanto 56% relataram enfrentar dificuldades, e quase 1 em cada 10 trabalhadores disse estar sofrendo. Esses dados revelam que os trabalhadores atuais estão enfrentando sérios desafios em relação ao bem-estar.

Esse cenário não é isolado. Em 2023, a Randstad do Reino Unido conduziu uma pesquisa com mais de 12.000 candidatos para obter insights sobre a situação atual do bem-estar e identificar formas de melhorá-lo. Os resultados mostraram que as contas domésticas são o principal fator que impacta o bem-estar, seguido pelo custo de habitação. Além disso, a pesquisa revelou que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal tem o impacto mais significativo sobre o bem-estar, em comparação com outros fatores.

Em outra pesquisa envolvendo trabalhadores nos EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá, apenas 63% classificaram sua saúde física como boa ou excelente, com os números diminuindo ainda mais em outras áreas. Apenas 58% relataram o mesmo nível de satisfação com sua saúde mental, enquanto apenas 45% o fizeram em relação à saúde social; e somente 35% avaliaram sua saúde financeira como boa ou excelente. Esses dados evidenciam que os trabalhadores estão enfrentando uma gama diversificada de desafios, não se limitando a uma única área. 

No final das contas, nenhum colaborador está imune ao estresse físico, mental e financeiro, e seus impactos sobre o bem-estar geral e desempenho profissional são significativos. Os empregadores estão começando a reconhecer essa realidade. Como mencionado anteriormente, 80% das empresas globais agora estão priorizando o bem-estar dos colaboradores. De fato, é previsto que o mercado global de bem-estar no local de trabalho ultrapasse os $93 bilhões até 2027.

Embora mais empregadores estejam oferecendo benefícios, incentivos e serviços de bem-estar, muitos trabalhadores não estão aproveitando esses recursos. Um estudo recente revelou que 68% dos trabalhadores não estão utilizando todas as ferramentas e recursos de bem-estar disponibilizados para eles. Muitos desses trabalhadores reclamam que algumas das iniciativas são confusas e representam uma perda de tempo. Portanto, há ainda um longo caminho a percorrer.

confira nosso infográfico para examinar melhor a situação do bem-estar funcional ao redor do mundo.

confira nosso infográfico para examinar melhor a situação do bem-estar funcional ao redor do mundo.

baixe nosso infográfico

Fatores que impactam o bem-estar funcional

Claramente, as estatísticas mostram que há um problema com o bem-estar no local de trabalho. Não há um único fator impactando o bem-estar funcional. Pelo contrário, os colaboradores atuais estão enfrentando uma variedade de problemas que podem impactar negativamente seu bem-estar.

Desafios para encontrar um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal

Enquanto a pandemia global está ficando para trás, ela destacou a importância de manter um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. Durante esse período desafiador, os trabalhadores se viram obrigados a conciliar o trabalho remoto com o cuidado de crianças ou familiares, além de outras responsabilidades pessoais. Embora muitos tenham retornado aos seus escritórios e locais de trabalho tradicionais, o anseio por esse equilíbrio continua evidente

De acordo com nosso mais recente estudo, Workmonitor 2024, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é considerado tão essencial para os trabalhadores atuais quanto seus próprios salários. Surpreendentemente, 57% dos entrevistados afirmaram que nem considerariam aceitar uma oferta de emprego se achassem que isso prejudicaria seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Se sua empresa não oferece algum nível de flexibilidade no horário de trabalho, corre o risco de perder talentos para organizações que o fazem.

Felizmente, conceder aos colaboradores essa flexibilidade para lidar com suas questões pessoais durante o expediente pode ter impactos positivos significativos em seu bem-estar geral. Por exemplo, permitir que tirem folgas para consultas médicas ou terapia pode melhorar tanto sua saúde física quanto mental. Além disso, ao ajudar os colaboradores a alcançarem um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal, sua empresa pode esperar ver melhorias nas taxas de retenção e atrair candidatos mais qualificados, tornando-se assim um empregador mais atraente no mercado.

Profissões de alto estresse a exaustão no trabalho

Aqueles que trabalham em empregos de alto estresse, como os setores da saúde, varejo, indústria e logística, estão enfrentando um impacto ainda maior em seu bem-estar geral. O trabalho em longas jornadas em ambientes de alta pressão pode exercer um peso significativo sobre a saúde física e mental dos colaboradores.

De acordo com um relatório da Mental Health America, 81% dos trabalhadores em ambientes estressantes relataram que o estresse relacionado ao trabalho afetou sua saúde mental de forma geral. Além disso, 73% desses profissionais perceberam que esse estresse teve um impacto negativo em seus relacionamentos com familiares, amigos e colegas de trabalho.

Essa situação pode facilmente conduzir ao burnout ocupacional e incentivar os colaboradores a procurarem oportunidades de trabalho em outros lugares. Segundo um estudo recente, muitos trabalhadores atuais ao redor do mundo estão passando por exaustão (43%), estresse (42%), sobrecarga (35%) e depressão (23%). Esses fatores contribuíram para que 63% dos trabalhadores globais se sintam esgotados no trabalho, sendo as mulheres mais afetadas do que os homens.

Close up - Smiling male looking away behind a desk
Close up - Smiling male looking away behind a desk

Estresse de colaboradores de escritório x operários

Ao examinar a situação do bem-estar no trabalho entre operários e funcionários administrativos, é comum encontrar resultados contraditórios. Alguns relatórios destacam que as demandas físicas enfrentadas pelos operários, como levantamento de peso, trabalho manual e longas horas, podem ter um impacto significativo em sua saúde mental e física. Por outro lado, outros estudos revelam que o trabalho de alta pressão, prazos apertados e longas horas em frente a uma mesa de escritório também podem prejudicar a saúde física.

No entanto, um estudo científico recente aponta que os operários frequentemente enfrentam problemas de saúde mais graves do que seus colegas administrativos. Infelizmente, eles são menos propensos a aproveitar plenamente as iniciativas de saúde no trabalho. Por isso, empregadores em setores como indústria e logística devem tomar a iniciativa de incentivar os trabalhadores a priorizarem sua saúde mental e física.

Preocupações econômicas contínuas

Sem dúvida que o tumulto econômico atual impacta o bem-estar funcional. Primeiro, custos se elevando e preocupações de recessão estão causando aos trabalhadores ao redor do mundo dificuldades com o bem-estar financeiro. Para alguns trabalhadores, isto significa assumir mais horas-extras ou um segundo emprego. Para os demais, isso significa cortar custos. De qualquer maneira, isso põe pressão adicional sobre os trabalhadores.

Em segundo lugar, a retração econômica força as empresas de todos os setores a ter foco em restrições orçamentárias. Isso levou a demissões para alguns e trabalho extra a outros.  O estresse relativo a estas questões é evidente em nosso estudo Marca Empregadora 2023, onde os trabalhadores classificam a segurança do trabalho a longo prazo como o terceiro fator principal ao escolher um emprego.

Ambientes de trabalho seguro

Ambientes de trabalho tóxicos não se desenvolvem do dia para a noite. Quando problemas como bullying e assédio não são abordados, podem rapidamente criar um ambiente que prejudica o bem-estar dos colaboradores. Na verdade, locais de trabalho tóxicos podem desencadear estresse, burnout e ansiedade entre os trabalhadores — todos esses fatores impactam o humor, a retenção e a produtividade. Na América Latina, o desejo por uma experiência de trabalho gratificante é tão crucial que os trabalhadores da região o classificaram como o segundo fator mais importante ao considerar mudar de emprego.

Conexão entre bem-estar e resultados empresariais

Não há como negar que o precário bem-estar dos colaboradores tem um custo elevado. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, estão custando às empresas ao redor do mundo cerca de US$1 trilhão por ano, principalmente devido à perda de produtividade.

Os colaboradores não precisam necessariamente ter problemas de saúde mental para afetar o resultado final. Um estudo adicional revela que trabalhadores insatisfeitos estão gerando às empresas americanas mais de US$550 bilhões anualmente, perda de produtividade, devido ao absenteísmo, doenças e esgotamento ocupacional (burnout).

Mesmo que um programa de bem-estar funcional fraco afete apenas alguns colaboradores, isso pode desencadear um efeito cascata em todo o negócio, impactando a moral e a satisfação no trabalho. Além disso, altos índices de absenteísmo forçam os demais colaboradores a assumirem mais horas extras e responsabilidades adicionais, o que pode resultar em exaustão e taxas de rotatividade elevadas.

A boa notícia é que os programas de bem-estar no local de trabalho geralmente proporcionam um excelente retorno sobre o investimento. Embora os benefícios financeiros possam não ser imediatamente perceptíveis, 90% dos empregadores que implementaram tais programas observaram melhorias tanto no desempenho quanto na produtividade dos colaboradores.

Além disso, estudos demonstram que os programas de bem-estar no ambiente de trabalho podem levar a um aumento de 23% na produtividade, uma redução de 27% no absenteísmo e um aumento de 43% no engajamento. Em geral, essas iniciativas de bem-estar funcional têm demonstrado um retorno de US$3,27 em custos reduzidos com planos de saúde e US$2,73 em absenteísmo reduzido para cada dólar investido.

O papel da liderança em criar uma cultura de trabalho saudável

Alguns empregadores sustentam a crença de que o bem-estar é uma responsabilidade que os colaboradores devem resolver por si mesmos. Eles veem cada colaborador como responsável por seu próprio bem-estar. No entanto, segundo nosso estudo Workmonitor 2024, que entrevistou mais de 27.000 colaboradores, 20% acreditam que é dever do empregador auxiliar na gestão de seu bem-estar mental.

Embora isso possa ser verdade — afinal, não se pode obrigar os colaboradores a priorizarem inteiramente seu próprio bem-estar —, o fato de o bem-estar estar intrinsecamente ligado aos resultados empresariais torna essa questão impossível de ser ignorada pelos empregadores. Para construir uma força de trabalho eficaz capaz de superar o estresse que afeta o desempenho dos colaboradores, as organizações devem priorizar programas de bem-estar.

Embora os empregadores não possam obrigar os colaboradores a agirem, podem fornecer as ferramentas necessárias para melhorar seu bem-estar físico, mental, emocional e financeiro. As partes interessadas e os líderes empresariais devem liderar a implementação de programas e ações de bem-estar funcional, além de promover e utilizar tais iniciativas.

O primeiro passo para impulsionar o bem-estar dos colaboradores é entender seu estado atual, como isso está impactando os trabalhadores globalmente e quais fatores afetam o bem-estar no local de trabalho. Os detalhes apresentados neste artigo podem ajudar a compreender esses fatores e identificar áreas dentro de sua organização que impactam o bem-estar no trabalho. Esse é um excelente ponto de partida ao elaborar ações de bem-estar para seus colaboradores.

confira nosso infográfico para examinar melhor a situação do bem-estar funcional ao redor do mundo.

confira nosso infográfico para examinar melhor a situação do bem-estar funcional ao redor do mundo.

baixe nosso infográfico
sobre a autora
monica souza
monica souza

mônica souza

diretora da randstad operational

Mônica é diretora da Randstad Operational, divisão que atua no recrutamento e seleção de vagas permanentes e temporárias para posições administrativas, técnicas e operacionais. Em seus mais de 15 anos de carreira, tem passagens por corporações como RH Internacional e Itaú Unibanco, atuando no desenvolvimento de negócios e na liderança de equipes para a implementação de projetos estratégicos com foco em soluções de recursos humanos.

mantenha-se atualizado nas últimas notícias, tendências e relatórios sobre recrutamento e mercado de trabalho.

cadastre-se